domingo, julho 31, 2005

Coisas das histórias – O homem que não chegou a suicidar-se VI

O manuscrito que parecia ser destinado a todos nós dizia o seguinte:

Estou velho,

chega aquela altura em que, como baratas tontas, tentamos a todo o custo exorcizar os demónios; os mamutes do passado. Qualquer justificação nos serve para viver um pouco mais que seja, os nossos sonhos. Viver o que se imagina. Viver o que se imagina ser verdade. Os meus pesadelos não me deixam dormir e eu já não tenho grandes alternativas senão tentar perceber-lhes o porquê.

Adoro segundas-feiras. É o dia em que toda a gente percebe novamente que assinou um contrato de trabalho e que, a derradeira verdade, têm um compromisso que muitas vezes não lhes apetece manter. É o dia em que, estranhamente, toda a gente me dá sentido.

O meu compromisso comigo mesmo é nunca perder as infinitas oportunidades de ter um dia inspirado. Estaria a mentir se dissesse que vos amo a todos, mais perto da verdade seria afirmar que, por esta altura, amo muito poucos. É muito triste não pensar em todos aqueles que gostaria de pensar; mas enfim, ninguém é obrigado a gostar de ninguém e, enfim, não vamos amarrar a burra com o pretexto de uma sensibilidade glando-clitorideana que nunca quisemos ter.

O respeito que não me tiveram, fez-me falta; mas não condeno ninguém por esta desnutrição. Mais, até compreendo, porque eu próprio nunca tive tempo e pachorra para me respeitar e se alguma vez o tive, foi para respeitar os outros e, aqui, tantas e tantas vezes as pessoas erradas foram respeitadas...mas a vida é assim: umas vezes escolhemo-la, outras vezes é ela que nos escolhe a nós. Mas sempre fui um tipo extremamente simpático, não era agora que eu ia deixar de o ser: a culpa, minhas senhoras e meus senhores, foi toda minha.

Repito-me constantemente, eu sei, não é por mal.

Ai...sinto tanta vontade de dormir...

sábado, julho 30, 2005

Coisas das histórias – O homem que não chegou a suicidar-se V

Na terceira gaveta encontrava-se a carta que se destinava a Sessenta e Nove:

“Se conseguisse desenhar a 20 aniversario...palabras do Patxi Andión, era precisamente aqui que o faria.

Sempre mais nobre que eu; sempre mais pequena que eu. Só te falhou a presença de espírito ao teres mentido; bem sei que andavas distraída, com outras coisas; muitas coisas. Mas não seria a frontalidade da verdade a forma de te esqueceres das mentiras? A pior delas foi teres dito que nunca tinhas mentido; foi teres mentido a ti própria. Foi aí que percebi que, muito provavelmente, eras apenas uma imagem; assim te pintei; assim te pintaste.

Já é tarde para que se prove o contrário; sim, porque o “tarde” também existe, e também chega. Infelizmente, deixámos tanto por fazer...não é? Devíamos ambos ter crescido um pouco mais cedo; eu, esquecer-me-ia de ti, e tu...tu perceberias que o que mais queres é deitar-te comigo. Ai...onde chegaríamos...tanto tempo desperdiçado; tantos sonhos dilacerados...Mas agora é já tarde, dramaticamente tarde.”

sexta-feira, julho 29, 2005

Coisas das histórias – O homem que não chegou a suicidar-se IV

Na segunda gaveta encontrava-se a carta que se destinava a Trinta e Três e, em vez de um desenho, existia um texto que antecedia as suas palavras.

“Quando não nos entende, é porque é estúpido; quando não se faz entender é porque é egocêntrico; quando se cala é porque é parvo e quando é mais esperto que nós, é porque é idiota.”

Suponho que era algo escrito por alguém importante, mas não consegui averiguar quem...

As suas palavras:

“Todas as tuas ideias filosófica e politicamente correctas só me deram vontade de fazer asneiras. Gostavas de pensar por mim e por ti, escondendo os jogos de manipulação atrás de uma sensibilidade maternal – e a isso chamaste um grande amor...mais uma brilhante demagogia! Mais tarde, continuaste sem entender que não havia nada que entender – pois havia só o desejo e o desejo de vivê-lo. Disseste que estavas confundida, e mesmo isto foi racional. É assim que vemos uma pessoa de mente aberta fugir à sua vida, pelo medo de a viver; é assim que vemos, uma pessoa com um talento promissor, sonegá-lo para ter uma vida igual a tantas outras – aquela “vida quadrada” de que tanto nos rimos; a “vidinha” que tanto repugnámos, no passado. Vai ser sempre assim; precisamente igual àquilo que nunca quiseste, não é?

Só o amor me faz foder. Só o amor me faz foder.”

quinta-feira, julho 28, 2005

Coisas das histórias – O homem que não chegou a suicidar-se III

Na primeira gaveta encontrava-se a carta que se destinava a Trinta e Um e, por baixo do desenho de um crocodilo, encontra-se escrito:

” O ódio foi a ferramenta ideal da tua auto-indulgência. Tudo porque quiseste drenar as tuas culpas da pior forma – insistindo em encaixá-las na mente dos outros – em vez de encarar essa besta que, afinal, cresceu na tua inocente criança. Bem que a desejavas, essa criança; mas, uma vez perdida, ela já não se reinventa não é? O pior é que, enquanto se regurgita a criança, também se não é mulher. Tanto tempo perdido...a andar em círculos...

A ti, e só a ti, te digo: a culpa não é minha. Mas sempre fui um tipo extremamente simpático, não era agora que eu ia deixar de o ser e, por isso, até te dou uma pista: qual culpa?”

quarta-feira, julho 27, 2005

Coisas das histórias – O homem que não chegou a suicidar-se II

No dia 13 de Janeiro de 1994 – um mês depois do sucedido – a polícia tornou público o seu relatório e entregou os manuscritos recolhidos à família dele, embora as cartas tivessem sido cuidadosamente reproduzidas e, estas reproduções, anteriormente enviadas. A família dele éramos nós e mais ninguém.

Segundo o relatório que nos foi cedido, o pequeno armário de contas era composto por seis vezes seis gavetas, o que dá trinta e seis gavetas, ao todo; em três delas encontravam-se cartas escrita à mão, sempre diferentes. As restantes gavetas encontravam-se vazias. Ao lado do seu corpo encontrava-se ainda um Zippo aberto, um grande Partagas por acender, a sua velha mochila com duas garrafas de álcool etílico por abrir e uma garrafa de rum velho, com apenas metade do líquido. Havia também um livro aberto; o título era “Pensar”, primeira edição, e o autor era Vergílio Ferreira; estava aberto nas páginas cento e vinte e oito e cento e vinte e nove. O livro tinha-nos sido entregue também e, o único parágrafo que consegui memorizar destas páginas, dizia:

“160 – Vir a morte e levar-nos. E não fazermos falta a ninguém. Nem a nós. Que outra vida mais perfeita?”

O marcador das páginas era outra carta, que parecia ser destinada a todos nós.

Coisas do fim, e dos novos princípios


Ontem, o técnico morreu mais um pouco...
...quer dizer... parabéns Maria!
O mundo é a tua ostra!... seja lá o que isso for!


terça-feira, julho 26, 2005

Coisas das histórias – O homem que não chegou a suicidar-se I

Imagina que o único remédio para os seus pesadelos era abrir aquela porta. Ambos sabemos que é uma suposição, mas que outra forma temos nós de perceber o que foram os seus últimos dias?

Imagina então que, quando ele a abriu, encontrou o armário de contas, e que, em cada uma das gavetas, encontrou cada uma daquelas imagens que lhe atormentavam o sono. Imagina que as confrontou, uma a uma, decifrou-as em todos os detalhes e percebeu-lhes o sentido; imagina que todas elas tinham um sentido. Imagina que cada uma o conduziu a um daqueles momentos de que já te falei tantas e tantas vezes; aqueles momentos em que estar vivo é uma experiência tão forte que se dá uma alteração no nosso corpo: surge uma ruga, de tanto sorrirmos; desaparece-nos o brilho dos olhos, de tantas lágrimas vertermos; embranquece-nos um cabelo, depois de uma grande desilusão...

Imagina que conseguias esquecer todos os teus grandes amores, e lembrar-te de cada fugaz paixão; imagina que conseguias falar com toda a gente querida que já morreu, e com os teus filhos que poderiam ter nascido.

Imagina que conseguias descortinar o teu futuro, tão bem como o farias com o teu passado, aliás.

Como poderia não morrer depois desta experiência?!? Que mais havia a fazer? Apenas sonhar. Apenas sonhar.

Espero que ele tenha, afinal, conseguido voar por cima de tudo isto; ao som do metal do Coltrane. Lembras-te? Quando disse que lhe podiam tirar os talheres e o vinho, mas que não lhe tirassem a My Favourite Things? Acabou por comer o jantar frio...mas com a música que queria!

Podes chamar-me idiota Trinta e Três, mas, para mim, foi assim que aconteceu, e assim me resolvo.

Coisas do Muitas Coisas - Fantastic 4

O Muitas Coisas tem o prazer de anunciar o seu novo membro coisante: .G

Muito nos honra ter-te por cá. Coisa muito!

domingo, julho 24, 2005

Coisas da Herança Mediterrânica: A Cor

Casa Branca, 16.07.2005 10h59m

Não é amarela nem cor-de rosa... Caiaram-na de branco e não foi por acaso... tenho a certeza.

Coisas do Mundo Google














...das Piramides a Sao Pedro enquanto o diabo esfrega um olho! (cortesia Google Earth)

quarta-feira, julho 20, 2005

Coisas dos Efeitos Secundários

A Ana é uma fixe!

Coisas da Solidão

A pior forma de solidão é a de dar-se conta de que as pessoas são idiotas.

Gonzalo Torrente Ballester

Coisas do Cinema – Nostalghia (1983) e uma crítica há muito por escrever, aqui

Entre todas as coisas boas que a invenção americana da indústria cinematográfica (D. W. Griffith) trouxe ao desenvolvimento da sétima arte, existem muitas outras coisas menos boas. Uma dessas coisas foi a “habituação” que criou no espectador comum: não há pachorra para o cinema lírico, vulgarmente chamado por “cinema de autor”. A minha questão é a seguinte: a que é que cada um de nós chama cinema? Arte? Entretenimento? Outra-coisa-qualquer? Talvez a perversidade que nos é servida de bandeja pelas editoras e produzida pelos grandes estúdios. Hoje, quem define o que é o cinema são os senhores que possuem o poder de produzir e distribuir estas dispendiosas bobines.

Dizia eu que, a perversidade deste poder, cria, convenientemente, uma “habituação” no espectador comum: isto significa que lhe fornece os símbolos e ícones que o sensibilizam; talvez deva mesmo dizer que, tendenciosamente, escolhem estes símbolos por nós (e o que é o “estrelato” afinal?..) e que, inevitavelmente, nos silenciam a imaginação, a espontaneidade, a genuinidade. Isto significa que é quase como aquela velha história de que “a nossa cura é também a nossa doença”.

Bom, não me interessa discutir qual das posturas será a mais perversa e pervertida – se a da moderna indústria, se a de “cinema de autor” – o que me interessa tem mais que ver com o facto de ser muito fácil distrairmo-nos e fechar os olhos a coisas que são muito mais nossas do que aquilo que possamos pensar. Menosprezar essas coisas é menosprezarmo-nos, se bem me faço entender.

E, se isso acontece, então temos uma opção: ou deixar que isso aconteça e pensar que todo este meu discurso é ridículo, ou procurar alternativas; quanto as estas últimas, mais uma vez – e como é evidente – cada um sabe de si.

Entender “o que é o cinema” não é uma discussão fácil; mas entender o que é a pintura (e tudo o resto que envolva o conceito “arte”) também o não é. Contudo, parece-me unânime a ideia de que o cinema é uma arte – e é precisamente neste ponto que gostaria de reticenciar esta minha reflexão.

Adiante.

Para que fique desde já claro: o Sr. Andrei Tarkovsky é o meu realizador favorito (embora a escolha seja complicada...). Foi esse senhor que realizou este Nostalghia.

É o meu realizador favorito porque não se lhe consegue apontar um “erro”; e caso ele exista, é com certeza propositado.

É um grande criativo em múltiplos aspectos que, dos quais, eu só entendo pequena parte.

Os fracos recursos na produção dos filmes que fez não fizeram deles filmes fracos; pelo contrário: fica-me sempre a sensação de ter sido (bem) enganado: “Como é que ele consegue pôr 50 cenas no mesmo espaço e este encontrar-se sempre diferente?!?” Lembra-me os Nenúfares de Monet...

A forma como dá um sentido lírico aos filmes; como extenua e enfatiza coisas banais; a expressão das coisas banais; os sons que nos integram perfeitamente na acção e, no caso concreto deste filme, nos devolvem memórias; e as garrafas que acumulam as gotas de chuva das goteiras do telhado da casa velha dentro das paredes de pedra branca nervuradas com colunatas, formando as espantosas ruínas da catedral... – tudo isto é infinito, tudo isto é lindo, tudo isto é Tarkovsky...

Muito mais haveria para dizer sobre este senhor...tanto que me falta a pachorra para o racionalizar e pôr em palavras. Estranhamente, este filme deixou-me muitas impressões que dão uma forte legitimidade ao seu título; palavra que não é mencionada uma vez sequer ao longo do filme (excepto no próprio título).

Para mim, este é um excelente exemplo daquilo a que chamam cinema, se é que se referem àquele que se refere à arte. Talvez os filmes deste grande realizador não sejam os “melhores filmes”; talvez os “melhores filmes” não sejam feitos por grandes realizadores; o que sei é que, este, é uma das melhores formas de gastar duas horas do nosso precioso tempo (em vez de o gastarmos a ir ver o War of the Worlds, do tio Spielberg, por exemplo...). Mais, é, sem dúvida alguma, uma lição de cinema para quem assim o possa entender. É um “filme chato” de inegável e insólita beleza.

Eventualmente, este é, para alguns, um texto escrito por um conservador; olhem que não, desenganem-se porque é precisamente o contrário.

Obrigado pela atenção.

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domingo, julho 17, 2005

Coisas do Arroz - Delays

Peço desculpa pela minha ausência nas últimas semanas; passa-se que a acessibilidade à Internet passou a ser um luxo por aqui. No entanto, vou estando por cá com o mesmo gosto, mas só quando posso.

Coisas da Fotografia - Retrovisor

Coisas da Fotografia - Praia Pequena II


Na Praia Pequena a Terra é redonda.

Coisas do Cinema – Dark City (1998)

E por falar nele, aqui ficam alguns estímulos visuais para ver ou rever este excelente filme do excelente Alex Proyas.

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Coisas da fotografia - Praia Pequena I



Ai o Photoshop, o Photoshop...

Coisas do Cinema – Fahrenheit 451 (1966)

Não me recordo de ter visto outro filme de François Truffaut. Para mim, neste que vi hoje, existe o mérito de se conseguir fazer em 1966 uma coisa muito próxima daquela que fez Michael Radford em 1984 com o Nineteen Eighty-Four. Mas não fiquei convencido da forma que pensei que fosse ficar; sempre achei que fosse um nome incontornável na história do cinema... Expectativas a mais? Escapou-me alguma coisa importante? Há por aqui alguém que me encaminhe para uma coisa do Truffaut mais “convincente”?

Depois de ver o Metropolis do Lang, feito em 1927, um tipo fica, provavelmente, demasiado exigente; parece que, até ao Blade Runner (Ridley Scott, 1982), a história dos filmes social-visionários está estruturada ao contrário, tendo um princípio com o Nineteen Eighty-Four e o culminar em 1927, com Metropolis.

Se nunca viram nenhum dos que falei, vejam-nos com esta lógica cronológica invertida, a ver se não me dão razão. (e, talvez assim, achem cada um mais impressionante que o outro)

Isto se eu não me esqueci de nenhum...

Fica aqui a minha sugestão para a cronologia dos “admiráveis mundos novos” cinematográficos:
- Nineteen Eighty-Four (Michael Radford, 1984);
- Fahrenheit 451 (François Truffaut);
- Metropolis (Fritz Lang, 1927);
- Blade Runner (Ridley Scott, 1982);
- Dark City (Alex Proyas, 1998);
- The Matrix (Wachowsky Brs., 1999);
- Minority Report (Steven Spielberg, 2002).
- Metropolis (Fritz Lang, 1927) outra vez! ;-)


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quinta-feira, julho 14, 2005

Coisas do Desenho

Não somos mais que isto...rectas e curvas.
Ás vezes é preciso fazer este exercício de depuração e limparmos os excessos.

quarta-feira, julho 13, 2005

Coisas do Cinema – The Elephant Man (1980)

Este é um filme em que se pode ver David Lynch na sua condição de “realizador comum”. A sequência inicial (atropelamento dos elefantes) permite antever um pouco daquilo que seria a experiência alucinada/alucinante de Lynch nos filmes posteriores, mas em todo este filme existem já propósitos de um grande realizador (como por exemplo, o degradeé que existe entre uma altura em que temos medo do homem elefante até ao momento em que nutrimos carinho pelo mesmo).

Fez-me lembrar aqueles belos esquiços que Picasso desenhou antes de ter enveredado pelo cubismo; desenhava muito bem, mas foi muito mais longe que isso – ainda bem.

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terça-feira, julho 12, 2005

Coisas das pessoas – “fatal error”

Há gente que não suporta estar errada. Que se lixem esses todos.

Coisas da sociedade – as elites do ridículo

A hospitalidade é uma coisa que, segundo me consta, é milenar. Não percebo porque é que há gente que teima em falar de coisas privadas, deixando tudo por explicar. Serão arrogantes demonstrações de uma duvidosa cumplicidade? ou apenas uma distracção daquilo que é mais básico na comunicação?

Não saber comunicar é uma coisa; não o querer é outra.


Smashed, Matt O'Sullivan.

Coisas do cinema – Baraka (1992)

Se a trilogia Quatsi peca pela falta de originalidade, é devido a este filme de Ron Fricke, mais antigo.

Depois da televisão ter “roubado” o género documental ao cinema, este vai recuperar essa temática com esta longa-metragem.

À semelhança da trilogia Quatsi, este é um filme que - por não viver nada à custa de personagens, diálogos e efeitos especiais – vive, antes, pela riqueza da imagem e da música (com a participação dos, agora renascidos, Dead Can Dance).

Este tipo de cinema tem a eterna vantagem de estar completamente de acordo com aquilo que os irmãos Lumiére imaginaram que o cinema poderia vir a ser. (ou não?)

Tem também outra vantagem, que é o facto do espectador poder escolher a história que quiser para as imagens que vê – se bem que a generalidade do público está mais “habituada” a que construam histórias para eles e que puxem pela imaginação por eles.

Deixo-vos a minha experiência: apesar de ser um grande cliché, para mim este filme retrata com excelência a ténue fronteira entre civilização e barbárie.

Mais, todas as civilizações acabaram por cair...

Mais, é aqui.

segunda-feira, julho 11, 2005

Coisas da Pintura - Klimt II

e são também coisas da saudade...

O Beijo (pormenor)
1907/08
óleo sobre tela, 180x180cm

sexta-feira, julho 08, 2005

Coisas daquelas que nao se percebem...


foto: Rob Gardiner

Paz aqueles que aqui ficaram...

7th July, 2005

7h15m - toca o despertador. O peso do trabalho do dia anterior arrasta-se para esta manha...esta frio, nao apetece sair da cama.

8h13m - corro para o comboio, nao quero apanhar o proximo que esta sempre a pinha...engano, vou neste mesmo, colado a porta, agarrando-me aos apoios. Um silencio enorme, ninguem fala, apenas se ouvem os 300 IPODS a zumbir.

8h25m - posso repirar novamente. Saio do comboio e vou para a plataforma do metropolitano. Bolas, perdi o metro...mais 8m.

8h45m - atravesso o Thames de metro (por baixo, num tunel muito humido e apertadinho)

8h51 - Primeira explosao num tunel a 100m da Liverpool Street Station (Circle Line) - 7 mortos confirmados

8h55m - chego ao trabalho. Dirijo-me a maquina para preparar um espresso. Vou para a minha secretaria, ligo o computador e converso um pouco com um colega...banalidades.

8h56m - segunda explosao num tunel entre Kings Cross e Russell Square Station (Piccadilly line) - 21 mortos confirmados

9h10m - A minha colega com um ar assustado diz-me que houve uma falha qualquer num metro, com explosao...pensava-se que teria sido um problema tecnico que tinha provocado a explosao.

9h17m - terceira explosao na Circle Line com comboio de Edgware Road para Paddington - 7 mortos confirmados

9h25m - Uma colega nossa, telefona a avisar que esta bem, mas que nao vem trabalhar...ela estava na ponta do primeiro comboio que explodiu. Saiu ilesa, mas esta em choque. Nao ha confirmacao das causas da explosao.

9h35m - Recebo um telefonema a perguntar se estava tudo bem comigo...foi a primeira vez que soube que tinham rebentado 3 comboios - primeira confirmacao de que algo estava a correr mal. Passei a noticia...ligaram-se televisoes, comecaram a correr os telefonemas e os emails...em breve os telefones deixariam de funcionar.

9h47m - Quarta explosao no autocarro 30 de Hackney para Marble Arch - 13 pessoas morrem.

9h50m - Comecam os arrepios frios, os suspiros e os questionamentos. Ja nao havia duvidas, tinha sido O ATENTADO.

10h00m - ... - Chegam noticias de todas as explosoes. Sao dadas as primeiras ordens a populacao. O Centro seria fechado dentro de minutos e toda a circulacao estaria fechada. Os transportes publicos nao funcionariam mais no centro. TODA a rede de metro ja fora desligada e evacuada. TODOS os servicos de transporte publico no centro nao funcionariam. As pessoas receberam ordens para permanecer nos sitios onde estivessem ate novas ordens.

Saimos a rua. Estava um silencio perturbador no ar. As ruas estavam desertas. A unica coisa que se ouvia eram sirenes. O unico movimento era no Thames - os barcos, surpreendentemente continuaram a funcionar. Assistimos a barcos de policia em rapida direccao para o centro. E assustador. A pior sensacao e de quando e que vai parar...

A angustia tomou-nos pelo resto do dia. A preocupacao era saber se estava toda a gente bem. Felizmente conseguiu-se avisar antes das linhas serem cortadas. Agora a unica comunicacao era via e-mail ou telefone fixo.

16h30m - Comeca a romaria. Milhoes de pessoas que necessitam de regressar a casa, tem de percorrer varias milhas para chegar a zona exterior e os que tivessem coragem, apanhar um transporte para casa. Outros limitaram-se a andar 2horas ou mais, a chuva para chegar a casa. Taxis - impossivel.

17h30m - Acabei de enviar o trabalho para o cliente (a vida tem de continuar quando ha prazos). Consegui arranjar alguem que me pode ajudar a sair daqui. Vou a pe com ele ate London Bridge Station - que bom, ja reestabeleceram o servico. Nao quiz pensar em mais bombas, estava so desejando chegar a casa. Imensos comboios atrasados e outros cancelados...esta e a unica hipotese para eu chegar a casa hoje...isto, ou andar a pe durante 2h30m a chuva, com um mapa fotocopiado e confiando nas minhas qualidades de navegador. O risco de bomba pareceu-me menor do que o risco de me perder.

19h30m - la apareceu o meu comboio. Ou pelo menos era o que dizia no placar...esta tudo uma confusao, tudo trocado, etc...asneira. Quando algo pode acontecer, acontece mesmo. Apanhei o comboio errado, na direccao certa, a hora certa, na plataforma certa, mas...era o seguinte. Para que percebam mais ou menos, imaginem que estava na estacao do Cais do Sodre e quero ir para Belem. Pois, apanhei o Expresso para Cascais. Agora multipliquem as distancias por 3 e podem fazer uma ideia aproximada. Quando cheguei la (East Croydon) , para meu maior desespero...mais atrasos nos comboios.

20h10m - la apanhei o comboio certo...parou em todas, mas consegui chegar a casa.

21h15m - Cheguei a casa. Um abraco sentido a quem tem ganhado um cantinho na minha roda de amigos (que hoje, para sua infelicidade se encontrava no centro aquela hora. Partilhou do terror. Demorou 7 horas a chegar a casa - tambem teve a sua dose...). Primeiro tranquilizar os meus. Depois as noticias. Infelizmente, sao dolorosas demais para ser verdade. Nao, nao pode ser...nao acredito...

22h30m - Deito-me. Estou de rastos. O meu ultimo pensamento vai para o dia de merda que os outros (mais de) 50 que teem a mesma historia que eu tenho ate as 8h51m tiveram. Paz a eles...

Coisas de um Presente


foto: Mark Robert

No passado
embrulhei pacientemente
o teu presente.
Um embrulho bonito,
uma fita de prata,
brilhante como o teu sorriso!

Agora queria desembrulhar
o teu futuro,
a sorrir
por te ver aqui
presente!

este post é para ti H. meu lindo presente

quinta-feira, julho 07, 2005

Coisa Inesquecível

...e a História repete-se de novo.
Coisa triste! Muito!

(O nosso correspondente está felizmente a salvo)


London