quinta-feira, janeiro 27, 2005

Coisas da Música – Mogwai ou os contornos da modéstia Q.B.

Na altura em que ouvi falar de Mogwai pela primeira vez foi no festival de Paredes de Coura, em 1999. Fiquei curioso por ver em palco uma banda escocesa pela primeira vez.

Enquanto eu estava deliciado por ouvi-los, eles foram forçados a deixar o palco; o público pareceu não gostar, em geral, e atiraram garrafas de água, em geral, aos elementos da banda; havia uma sede frenética de Guano Apes, que eram a seguir...mais perderam.

Perante a minha exposta vergonha e indignação passei de uma atitude indiferente a Guano Apes para uma atitude de franco desaconselhamento; amarrei a burra e encomendei o “Come on Die Young” para me deliciar sozinho, em casa.

O talento destes senhores é claro, para mim. A música, aparentemente simples, é o resultado de uma procura frenética de atmosferas melódicas eximiamente interpretadas. É bem verdade, é uma música que funciona bem melhor em estado-só do que no clima de um festival (se bem que o sucesso em festivais estrangeiros aponte o contrário...).

Pelos interstícios dos temas, escapam críticas sócio-culturais, apenas para quem assim as quiser interpretar; apesar do alinhamento ser quase exclusivamente instrumental, existem registos que apontam essa crítica (em grande força no álbum referido).

Assim, os Mogwai foram, para mim uma feliz descoberta, originária dum país, ao que sei, calmo e sem mexericos mediáticos, pelo menos no mundo da música. A humildade e despojamento são aparências; as melodias têm volume; as ideias, têm um propósito: é a maturidade musical que encontramos comunicada; a matriz é a abertura à subjectividade, aliás, como deve ser a música; mesmo quando os objectivos são o intervencionismo. Deixem falar quem sabe – não interrompam.

Eles continuam a trabalhar, com gosto; com certeza expectantes por serem absorvidos e colmatados por todos os ouvidos inquietos.

Sendo uma formação tipicamente “rock”, é surpreendente a forma como definem os seus próprios limites e se apercebem das potenciais virtudes. É essa a “source” de tanto gosto naquela que é uma das bandas “rock” mais adultas e originais da contemporaneidade.

Ouvir coisas, é aqui.

Levantem o volume ;-)


3 Comentários:

Às 29 janeiro, 2005 04:04, Blogger O Puto disse...

Não concordo que a Escócia seja "país (...) calmo e sem mexericos mediáticos, pelo menos no mundo da música". Sempre a tive como uma boa referência geomusical, e disso são exemplos, para além do Mogwai, Belle And Sebastian, Teenage Fanclub, Primal Scream, The Waterboys, Cocteau Twins, The Jesus And Mary Chain, The Delgados, Travis, Boards Of Canada, The Beta Band e, mais recentemente, Franz Ferdinand.
Também detesto que as bandas das minorias sejam repudiadas nos festivais pelos fãs dos grandes nomes. Uma autêntica falta de respeito cívico e musical.

 
Às 29 janeiro, 2005 04:25, Blogger Sérgio Xavier disse...

Envergonho-me, mas daquelas que mencionaste e que conheço, não fazia a mínima ideia de que eram escocesas :-O
Peço desculpa pela minha ignorância...
Estamos sempre a aprender! ;-)

 
Às 07 fevereiro, 2005 17:50, Anonymous Anónimo disse...

É com enorme saudade que recordo aquela noite em Paredes de Coura e que me deu a conhecer algo que até então não ouvira falar...eu fazia parte daquela infima franja do público que não atirou garrafas, nem "empurrou" os Mogwai literalmente pra fora do palco! Casos como este acontecem aos montes no nosso querido país, as pessoas não se capacitam que cada cabeça a sua sentença e que para tudo na vida temos de ser tolerantes. O efeito bola de neve a olhos vistos!Muito bom o som destes Escoceses, que não sei se estas coisas terão alguma coisa a ver mas se calhar a Geografia deste belo cantinho do mundo influênciou de algum modo a musica destes jovens.
Deixo aqui o meu comentário de enorme apreço pela música desta banda e os parabéns ao autor do artigo que descreve a todos os niveis e de forma clara o universo da música dos Mogwai.
Cumprimentos Tripas.

 

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