quarta-feira, julho 27, 2005

Coisas das histórias – O homem que não chegou a suicidar-se II

No dia 13 de Janeiro de 1994 – um mês depois do sucedido – a polícia tornou público o seu relatório e entregou os manuscritos recolhidos à família dele, embora as cartas tivessem sido cuidadosamente reproduzidas e, estas reproduções, anteriormente enviadas. A família dele éramos nós e mais ninguém.

Segundo o relatório que nos foi cedido, o pequeno armário de contas era composto por seis vezes seis gavetas, o que dá trinta e seis gavetas, ao todo; em três delas encontravam-se cartas escrita à mão, sempre diferentes. As restantes gavetas encontravam-se vazias. Ao lado do seu corpo encontrava-se ainda um Zippo aberto, um grande Partagas por acender, a sua velha mochila com duas garrafas de álcool etílico por abrir e uma garrafa de rum velho, com apenas metade do líquido. Havia também um livro aberto; o título era “Pensar”, primeira edição, e o autor era Vergílio Ferreira; estava aberto nas páginas cento e vinte e oito e cento e vinte e nove. O livro tinha-nos sido entregue também e, o único parágrafo que consegui memorizar destas páginas, dizia:

“160 – Vir a morte e levar-nos. E não fazermos falta a ninguém. Nem a nós. Que outra vida mais perfeita?”

O marcador das páginas era outra carta, que parecia ser destinada a todos nós.

1 Comentários:

Às 28 julho, 2005 14:05, Anonymous Anónimo disse...

Tá demais Xavi...
Intenso!!!

Tripas

 

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