Coisas da Impotência IX

...parecia-me que a parte do meu corpo que mais se movia era o meu cérebro. Bebia-o. Punha-me, então, a imaginar como seria lá dentro, o que se passava; onde iriam ser processadas as minhas sensações, se na parte dianteira do hemisfério esquerdo, se na nuca do hemisfério direito. Passava horas a interpretar e a tentar sentir as canalizações eléctricas. Nunca o consegui, fazia-me sempre lembrar aquela imagem do Lucky Luke, em que ele, mais rápido que a sua própria sombra, disparava contra ela, apanhando-a desprevenida. Só que, neste caso, o meu cérebro era o Lucky Luke.

Cheguei à conclusão que os limites do pensamento introspectivo são precisamente as ferramentas que temos para pensar; o pensamento nasce de si próprio e encerra-se em si próprio. Estranho é que, não obstante o mundo das sensações ser tão mais infinito, a maioria de nós, ocidentais, dedique a maioria da sua vida a processar e a reprocessar, iterativamente, as sensações.

O estar acamado, tornou-me num ser preguiçoso; mas depois de ter esta ideia, ainda fiquei mais.

Devia haver mais preguiça no mundo; e menos trabalho impertinente, ou destrutivo.