No dia do seu funeral, todos estavam lá e nenhum disse uma palavra sequer. Suponho que o fizeram mais pelo carácter pretensioso e, eventualmente, ofensivo das cartas que lhes haviam sido deixadas e dadas a ler; mais por isto do que pela tristeza liquefeita que sentiam. Não era, e nunca fora suposto alguma destas pessoas desarmar-se; afinal, eram elas que ainda continuavam vivas; eram elas os soldados que, por alguma estranha razão e um intrigante conjunto de coincidências, ainda não haviam sido surpreendidos fatalmente por uma bala inimiga.
Éramos trinta e sete, ao todo; trinta e oito com o padre, que nos levou dez contos pela cerimónia.
A seguir, fomos beber um chá, eu e a Trinta e Três, ex-mulher do meu falecido amigo e minha actual companheira de leito. A conversa que tivemos, já eu aqui vos contei. Ouviu-me em silêncio sem tirar os óculos escuros e o lenço negro que trazia ao pescoço. Encheu um cinzeiro com beatas de cigarro e rematou todo o meu discurso com um “Tenho de deixar de fumar.” – pedi a nossa conta e fomos para o nosso apartamento. Ela foi ler, como costumava fazer nas tardes de domingo; eu fui escrever um livro: este que agora se lê.
Então mas porque é que ele só escreveu três cartas a três pessoas? – perguntou-me ela – Trinta e Três, não era suposto termos lido nada disto; ele queria queimar tudo, juntamente com o seu corpo; ele morreu ligeiramente antes de poder escrever todas as outras...
Aquele foi o seu último cantinho, Trinta e Três, e ele sabia-o bem.
FIM