Coisas da imaginação – o miasma das ruínas
...foi então que entrei, movido por uma paixão semelhante àquela que os moveu no Stalker. Havia um longo corredor que parecia não acabar; o espaço afirmava-se como a única realidade disponível – e que fascínio é, quando assim acontece...
Cada compartimento, despertava-me interesse – queria entrar em todos porque cada um era um pequeno mundo, que se imprimiria de forma diferente na retina; não havia forma de não pisar coisas importantes e preciosas: estavam por todo o lado. Era-me impossível observar sem devassar.
A luz, densa, não consegui apurar de onde vinha...
...o que percebi, é que por cada interstício luminoso, eu via um registo cinemático da minha memória; como se todas as gavetas estivessem agora abertas, e ao meu dispor – a ruína não tinha já um lado de fora, pois as transparências que o permitiam observar estavam agora filtradas com as telas da minha infância.
Em cada compartimento, o som dos meus passos era diferente e, a cada passo, eu sentia uma nova e familiar fragrância. Estranhamente, não cheirava a pó; apesar de cheirar a coisas velhas.
Os artefactos que contavam a história da ruína estalavam a cada segundo, debaixo dos meus sapatos.
Ao fim de caminhar durante horas (tempo que não consigo pôr em palavras) e depois de ter acontecido aquilo, foi neste sítio que encontrei descanso e adormeci, com as roupas que tinha no corpo.
Lembro-me de que nunca mais de lá saí; lembro-me de que nunca mais lá voltei.
Fotos de Yuri Marder.
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