Coisas das Viagens - 3 noites em Sarajevo: noite terceira e mais um pouco...
Na manhã seguinte, arrumei a mala e tomei um longo duche antes de me dirigir ao restaurante do hotel comer; foi o último delicioso somun que comi na Bósnia.
Foi pela varanda que vi Jagoda chegar.
Depois de fazer o check-out (com vista a ir nesse mesmo dia para Veneza), fomos ao local do abrigo, como combinado. Era perto de uma igreja, onde ela beijou uma fotografia de um santo; e era perto da escola onde o seu filho ingressaria no próximo ano lectivo. Ela foi lá dentro e eu esperei sentado num banco exterior; surgiram uns repórteres que, pelo que me pareceu, faziam entrevistas sobre o começo do ano lectivo; disse-lhes: "I'm surely not who you are looking for..."
Quanto ao terreno, nada de especial; baldio, com ervas e árvores. Naquela zona de Sarajevo também se viam comummente cavalos.
Descemos e eu decidi apanhar um táxi até à estação ferroviária. Ela saiu antes e foi aí que nos despedimos; ficou de entrar em contacto comigo em tempo breve, mas até hoje, nada.
#
Dirigi-me para as bilheteiras da estação e, depois de 5 minutos sem nos entendermos, a mulher do guichê pediu-me para aguardar.
Aguardei por volta de 20 minutos, sentado em cima da pesada mochila, o stress começou a fazer efeito...
Tentei falar com outra mulher mas sem sucesso; entretanto, uma outra cliente, ao perceber a situação, tentou ajudar-me. Era americana-sérvia :-)
Percebi nesse momento que só teria comboio no dia seguinte, de manhã...
Depois de saber a má notícia, convidei-a para beber um copo comigo por ali perto.
Fomos então para um snack, onde eu aproveitei para almoçar. Tivemos uma conversa interessante, daquelas de estranho-para-estranho; contei-lhe o que se me tinha sucedido nos últimos dias.
Tirei o maço de notas que tinha na bolsa (na Hungria ainda foi pior...para pagar um pacote de leite eram necessárias umas 5 notas...) e reparei que, apesar de ter muito papel, tinha muito pouco dinheiro. Olhei para ela; ela simplesmente sorriu, pagou a nossa conta e disse: "Good luck, I wish you a good trip!"
Apanhei o tram pra o centro, com o intuito de levantar mais dinheiro e procurar um sítio para deixar a mochila e passar a noite.
Ao fazer as contas ao dinheiro que tinha, encontrei um papel com uns contactos em Sarajevo que o Zé me tinha dado no caso de precisar.
O cartão telefónico que tinha comprado para telefonar à Jagoda deu jeito. Falei com a Lejla: "You don't know me but I have a long story to tell you...", para ela ficar a saber onde eu estava, chamei um tipo que estava a passar e pedi-lhe que a informasse pelo telefone.
Por coincidência, a Lejla estava a dois minutos dali: "Hello! It's all arranged now, you will sleet at my sister's place." (Se tudo fosse sempre tão fácil assim...)
Por coincidência, a sua irmã, Nejra, estava a cinco minutos dali.
Pegaram em mim e nas minhas coisas e levaram-me para uma casa nas montanhas que encerram Sarajevo.
A Nejra é estudante de Arquitectura; os seus pais são arquitectos; a casa deles é fascinante.
Por fora, viam-se ainda as marcas da guerra; inúmeras marcas de balas pontuavam as paredes das habitações naquela rua, aliás, como em muito outras em Sarajevo...
A Nejra tinha o seu T0 dentro daquela casa...
Fui tomar um banho numa daquelas banheiras enormes, com o gel exfoliante que ela, carinhosamente, me sugeriu. Foi o melhor banho do meu Inter-rail.
Saímos para passear. Comemos isto-e-aquilo, bebemos muito iogurte natural (que os bósnios bebem tanto que existem lojas dedicadas a vender só iogurte, de fabrico próprio).
Fomos àquela que é a avenida mais populada de Sarajevo; havia pessoas a fazer jogging, putos a brincar com os cães e velhotes a dar o passeio do fim de tarde. Ficou noite e perguntei-lhe porque é que a iluminação exterior não estava ligada.
"Since the war, it doesn't work."
Esta cidade assombrou-me; normalmente, somos nós que observamos a cidade, Sarajevo, passados oito anos, observa-nos a nós; como se fosse um fantasma.
Levou-me a um tal de Buddha Bar no centro; situava-se num interior de quarteirão, sem qualquer letreiro à porta; ouvia-se som vindo do final do corredor.
O bar fazia lembrar os bistro de Krakow; por debaixo da cidade, envoltos em ruínas subterrâneas.
Na subida, parámos num miradouro; Sarajevo é a cidade dos minaretes; seja de que religião for (entre as 1001 existentes...), as torres dos locais de culto preenchem o skyline (valleyline) da cidade.
Antes de irmos dormir, mostrou-me uma bala cravada no soalho da sua casa: "Durante a guerra, nós barricamos todas as janelas com sacos de areia; mas um dos snipers que estavam nas montanhas conseguiu meter esta bala cá dentro."
Dormi como um anjinho.
#
No comboio para Zagreb (que fazia escala com o de Veneza) conheci uma interessante repórter eslovena. Jantámos juntos em Zagreb numa conversa animada que continuou durante a viagem.
Ao chegarmos a Ljubljana, enquanto a Neva preparava a sua bagagem para saír perguntou-me: "You're still going to Venice?"
...
Foi pela varanda que vi Jagoda chegar.
Depois de fazer o check-out (com vista a ir nesse mesmo dia para Veneza), fomos ao local do abrigo, como combinado. Era perto de uma igreja, onde ela beijou uma fotografia de um santo; e era perto da escola onde o seu filho ingressaria no próximo ano lectivo. Ela foi lá dentro e eu esperei sentado num banco exterior; surgiram uns repórteres que, pelo que me pareceu, faziam entrevistas sobre o começo do ano lectivo; disse-lhes: "I'm surely not who you are looking for..."
Quanto ao terreno, nada de especial; baldio, com ervas e árvores. Naquela zona de Sarajevo também se viam comummente cavalos.
Descemos e eu decidi apanhar um táxi até à estação ferroviária. Ela saiu antes e foi aí que nos despedimos; ficou de entrar em contacto comigo em tempo breve, mas até hoje, nada.
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Dirigi-me para as bilheteiras da estação e, depois de 5 minutos sem nos entendermos, a mulher do guichê pediu-me para aguardar.
Aguardei por volta de 20 minutos, sentado em cima da pesada mochila, o stress começou a fazer efeito...
Tentei falar com outra mulher mas sem sucesso; entretanto, uma outra cliente, ao perceber a situação, tentou ajudar-me. Era americana-sérvia :-)
Percebi nesse momento que só teria comboio no dia seguinte, de manhã...
Depois de saber a má notícia, convidei-a para beber um copo comigo por ali perto.
Fomos então para um snack, onde eu aproveitei para almoçar. Tivemos uma conversa interessante, daquelas de estranho-para-estranho; contei-lhe o que se me tinha sucedido nos últimos dias.
Tirei o maço de notas que tinha na bolsa (na Hungria ainda foi pior...para pagar um pacote de leite eram necessárias umas 5 notas...) e reparei que, apesar de ter muito papel, tinha muito pouco dinheiro. Olhei para ela; ela simplesmente sorriu, pagou a nossa conta e disse: "Good luck, I wish you a good trip!"
Apanhei o tram pra o centro, com o intuito de levantar mais dinheiro e procurar um sítio para deixar a mochila e passar a noite.
Ao fazer as contas ao dinheiro que tinha, encontrei um papel com uns contactos em Sarajevo que o Zé me tinha dado no caso de precisar.
O cartão telefónico que tinha comprado para telefonar à Jagoda deu jeito. Falei com a Lejla: "You don't know me but I have a long story to tell you...", para ela ficar a saber onde eu estava, chamei um tipo que estava a passar e pedi-lhe que a informasse pelo telefone.
Por coincidência, a Lejla estava a dois minutos dali: "Hello! It's all arranged now, you will sleet at my sister's place." (Se tudo fosse sempre tão fácil assim...)
Por coincidência, a sua irmã, Nejra, estava a cinco minutos dali.
Pegaram em mim e nas minhas coisas e levaram-me para uma casa nas montanhas que encerram Sarajevo.
A Nejra é estudante de Arquitectura; os seus pais são arquitectos; a casa deles é fascinante.
Por fora, viam-se ainda as marcas da guerra; inúmeras marcas de balas pontuavam as paredes das habitações naquela rua, aliás, como em muito outras em Sarajevo...
A Nejra tinha o seu T0 dentro daquela casa...
Fui tomar um banho numa daquelas banheiras enormes, com o gel exfoliante que ela, carinhosamente, me sugeriu. Foi o melhor banho do meu Inter-rail.
Saímos para passear. Comemos isto-e-aquilo, bebemos muito iogurte natural (que os bósnios bebem tanto que existem lojas dedicadas a vender só iogurte, de fabrico próprio).
Fomos àquela que é a avenida mais populada de Sarajevo; havia pessoas a fazer jogging, putos a brincar com os cães e velhotes a dar o passeio do fim de tarde. Ficou noite e perguntei-lhe porque é que a iluminação exterior não estava ligada.
"Since the war, it doesn't work."
Esta cidade assombrou-me; normalmente, somos nós que observamos a cidade, Sarajevo, passados oito anos, observa-nos a nós; como se fosse um fantasma.
Levou-me a um tal de Buddha Bar no centro; situava-se num interior de quarteirão, sem qualquer letreiro à porta; ouvia-se som vindo do final do corredor.
O bar fazia lembrar os bistro de Krakow; por debaixo da cidade, envoltos em ruínas subterrâneas.
Na subida, parámos num miradouro; Sarajevo é a cidade dos minaretes; seja de que religião for (entre as 1001 existentes...), as torres dos locais de culto preenchem o skyline (valleyline) da cidade.
Antes de irmos dormir, mostrou-me uma bala cravada no soalho da sua casa: "Durante a guerra, nós barricamos todas as janelas com sacos de areia; mas um dos snipers que estavam nas montanhas conseguiu meter esta bala cá dentro."
Dormi como um anjinho.
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No comboio para Zagreb (que fazia escala com o de Veneza) conheci uma interessante repórter eslovena. Jantámos juntos em Zagreb numa conversa animada que continuou durante a viagem.
Ao chegarmos a Ljubljana, enquanto a Neva preparava a sua bagagem para saír perguntou-me: "You're still going to Venice?"
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1 Comentários:
Migalha: Ainda bem que gostaste :) É já raro alguém ligar a isto, visto que já foi publicado h´um tempo...Mas assim, at´€ tem outro sabor :) Obrigado pela pesquisa e pelo crédito; obrigado pela descoberta! Boa sorte para ti também, por esse mundo fora.
PS: nunca uma senhora de 40 anos negará um convite para jantar com um jovem de 20 e poucos ;)
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