Coisas da música - Orgasmo a uma só nota
Vim do concerto dos Orgasmo no Rustik Café (Sintra). Há muito menos a dizer do que a ouvir; no entanto, não resisto a deixar um esboço literário do que ouvi.
Qual é a dimensão de um só tom?
A filosofia (se é que existe) da composição das músicas tem como base o espaço; aquele espaço que se deixa aos outros para tocar; toda a música dos Orgasmo passa-se a um só tom; seja o Dó, o Mi, ou o Ti. A exploração tonal vincula-se, assim, à orgânica rítmica e à iteração melódica; falo de uma evocação das melodias peculiares do nosso passado; desde as secções de cordas de Handel ao Trash metálico, quase brejeiro, mas bem evocado e interpretado, ou ao ocasional balanço texano e pacmaniano.
Mas tudo isto passa de uma fantasia; e passa porque tudo se passa numa esfera de contemporaneidade musical; os crescendo são samplados, os sons caprichosos são sintetizados, os violinos são uma guitarra.
As influências, não são influências, são antes rapports nostálgicos; tráfego de códigos musicais em bruto. A latência é de Badalametti, a respiração é de Aphex Twin, a virtude criativa é de Beck (porque não se esgota), o furor gritante e silenciante é de A Perfect Circle (porque as guitarras, a seguir ao grito, também se calam).
O trabalho destes senhores não se enquadra no New Age (porque é música eléctrica, mas acústica); não se enquadra no rock (porque rocka mas também afemina); não se enquadra no electrónico (porque é demasiado orgânico). Em suma, são algo de diferente, mas igual a tudo aquilo de que vulgarmente se gosta (e não é sempre isso que nos interessa?!).
Tive múltiplos :-)
Ouvir Orgasmo é estar debaixo de água, e poder respirar.
Formação:
Miguel Ângelo, bateria
Pedro Batalha, baixo
Rui Martins, guitarra
Duarte Ornelas, teclas
Hugo Santos, vídeo
Ver mais é aqui.
Qual é a dimensão de um só tom?
A filosofia (se é que existe) da composição das músicas tem como base o espaço; aquele espaço que se deixa aos outros para tocar; toda a música dos Orgasmo passa-se a um só tom; seja o Dó, o Mi, ou o Ti. A exploração tonal vincula-se, assim, à orgânica rítmica e à iteração melódica; falo de uma evocação das melodias peculiares do nosso passado; desde as secções de cordas de Handel ao Trash metálico, quase brejeiro, mas bem evocado e interpretado, ou ao ocasional balanço texano e pacmaniano.
Mas tudo isto passa de uma fantasia; e passa porque tudo se passa numa esfera de contemporaneidade musical; os crescendo são samplados, os sons caprichosos são sintetizados, os violinos são uma guitarra.
As influências, não são influências, são antes rapports nostálgicos; tráfego de códigos musicais em bruto. A latência é de Badalametti, a respiração é de Aphex Twin, a virtude criativa é de Beck (porque não se esgota), o furor gritante e silenciante é de A Perfect Circle (porque as guitarras, a seguir ao grito, também se calam).
O trabalho destes senhores não se enquadra no New Age (porque é música eléctrica, mas acústica); não se enquadra no rock (porque rocka mas também afemina); não se enquadra no electrónico (porque é demasiado orgânico). Em suma, são algo de diferente, mas igual a tudo aquilo de que vulgarmente se gosta (e não é sempre isso que nos interessa?!).
Tive múltiplos :-)
Ouvir Orgasmo é estar debaixo de água, e poder respirar.
Formação:
Miguel Ângelo, bateria
Pedro Batalha, baixo
Rui Martins, guitarra
Duarte Ornelas, teclas
Hugo Santos, vídeo
Ver mais é aqui.
10 Comentários:
Xavier my friend! MUITO OBRIGADO pelo APOIO :-))))
Red
Muita sorte, felicidades e, é claro, muito amor, é o que vos desejo! Keep the good work ;-)
escreveste no mail que nos mandaste, que metade de nós iria gostar e a outra iria odiar o teu texto... não sei se te preveniste com uma outra hipótese, uma espécie de espaço intermédio, onde anseio permanecer nos parametros rígidos da minha timidez, do gosto pela falta de opinião..
tenho apenas a dizer que poucas pessoas se dão ao trabalho de dissertar de uma forma tão exaustiva a nossa musica; poucas pessoas arranjam disponibilidade emotiva para encarar a dimensão musical de um projecto, seja ele qual for; poucas pessoas agarram num valor externo a si, e o transformam numa matéria pessoal, intemporal e intransmissível...
esse foi o teu papel; acabaste de criar um projecto dentro do projecto que são os orgasmo.
O que mais me orgulha nesta banda é precisamente essa validade multipla, essa percepção individual que cada um devora e remete para si mesmo... um pouco à semelhança de uma relação entre duas pessoas, o facto de uma pessoa existir apenas na imagem projectada pela outra pessoa... e assim nos transformamos em seres diferentes para cada olhar... agrada-me o facto de esta banda não ter apenas uma identidade, o mesmo valor divisível por todos, porque assim, "não temos de prestar contas à pesada ilusão a que chamam personalidade"..
..agradeço por te teres despejado em palavras, ainda que não me reconheça nas mesmas, ou não fosse orgasmo, musica de uma nota só, para um homem só (não confundir com solidão, isso fica ao critério de cada um)..
abraço, duarte ornelas.
p.s- Fui entretanto carregando nos outros itens inerentes ao site, e posso dizer que encontrei a essência das coisas...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Duarte, fiquei sem perceber muito bem se gostaste ou não :-S das palavras que "despejei". Clarifica, por favor.
Mas, à primeira leitura, tomo o teu comentário como um elogio, sabendo tu que toda a opinião é poesia. Ah, e quanto a ter-se ou não uma opinião...é como ter-se ou não um carro - há quem goste e há quem não goste; quem tem anda pra todo o lado, usa o banco de trás e paga o seguro e as portagens; quem não tem, anda a pé, de comboio ou apanha boleia...
Comunicar tem destas coisas: poesias, sacanas, mentiras, pipocas, políticos, pontos de exclamação, tagarelas, surdos, cegos e mudos...e tão pouco de pragmática.
É assim a arte, no geral; tem tanto de mau como de bom!
Mais, como sabemos, a simplicidade é coisa bonita e quase sempre difícil de se conseguir.
É essa a síntese e a beleza "de uma só nota"; é essa a síntese e a beleza do humor, de resto.
Não levaste a "essência" muito a sério, pois não?! É que nada aqui é sério! "Isto é um pátio, não se passa nada; à noite canta-se um fado e fica tudo aliviado!"
Um abraço e até breve, espero.
Numa altura em que tanto se fala de códigos, sejam eles de da vinci ou de uma nota só, temo realmente ter sido sucinto demais... mas descansa, tudo não passou de um elogio confuso..
existe, no entanto, uma razão para tal ter acontecido. é que quero muito não mexer na tua interpretação, e prefiro ficar-me pelas análises itenerantes, num apoio à exposição de ideias, não ao conteúdo das mesmas.
que importa se, para mim, a latência é ou não de badalametti, se não é a respiração de removemos de aphex twin, mas sim o seu sorriso envolvente, e se ao invés de secções de cordas handel, preferimos as erecções de cordas...
junta-nos o escrever, não o que se escreve.. foi por tudo isso, o que escrevi, um elogio perene..
ps, esqueci-me de assinar...
abraço, duarte.
Agora percebi! Ainda bem que gostaste de ler e espero que continues interessado por tudo o resto que é este blog. És sempre bem vindo ;-)
Um abraço.
Já vi o que se passa. Há aqui quem queira bebidas à pala da banda.
E tou a ver quem está já com um pézinho fora da banda... mais uma dessas...
Prevejo também uma forte relação entre os individuos intervenientes nesta ampla e tão poética troca de lábia.
Em relação ao espectáculo, não houve uma ejaculação precoce celestial, mas sim um resultado positivo na final: Orgasmo - 6 ; Rustik - 2.
Em breve consigo imaginar-vos em tshirt molhada e à molhada numa festa de tranças. No peito da camiseta, poderá ler-se em estilo 'ORGASMO'.
Assinado: Sou Eu Canudo, El Sanchez.
El Sanchez: já vejo tudo, tu não és El sanchez, canudo, és a Maya!
Wellcome to the blog.
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