quarta-feira, dezembro 15, 2004

Coisas da Infância - Ausência ou comentário às ilhas afortunadas

Disse Ausência mas podia muito bem ter dito Presença.
Sei que não fui o único a senti-lo, mas já há muito que não pensava sobre isto.
Lembro-me, em puto, de ficar a olhar para uma pessoa que desenhava, falava com outra, etc.
Lembro-me que ficava numa espécie de hipnose voluptuosa a observar os seus gestos; a sua maneira de ser.
Esta é a minha primeira perversão, das que me lembro...
Perversão porque observava mas não era observado; porque era o egoísta encontro comigo mesmo, à custa do que me rodeava; à custa dos outros; perversão porque acabava de duas maneiras: ou quando reparavam que eu observava, ou quando eu reparava que observava.
Doces momentos esses; lembro-me da forma como irremediável e subitamente me arrepiava; foi a primeira forma de puro amor; de contemplação química; de desejo alquimista.
Rarearam esses momentos; esses segundos; tornaram-se em coisas diferentes; metamorfosearam.
As ilhas afortunadas foi o poema que me fez entender o que era poesia; foi o primeiro onde me revi incondicionalmente. Para mim, Pessoa sentiu estas Ausências/Presenças e escreveu-o neste poema.


Arizona Interstate, Adam Butler.

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