quarta-feira, fevereiro 09, 2005

Coisas da Imaginação – uma doce mentira em jeito de literatura mimética



Não éramos namorados; mas rapidamente tornámo-nos amantes. Fomos para um pequeno castelo, isolado e de difícil acesso, que era uma herança da sua família abastada. Ali ficámos durante semanas, comendo conservas e bebendo chá; lendo livros e fazendo amor.

À medida que o tempo passava e que nos conhecíamos cada vez melhor começámos a afogarmo-nos na nossa própria relação pois ficámos iguais; olhávamos um para o outro mas, desesperadamente, só víamos um espelho.

Foi neste clima de solidão compartilhada que percebemos que tínhamos de voltar ao sítio de onde havíamos vindo, para que não nos destruíssemos mutuamente.

Nunca mais nos voltámos a ver, embora – sei – não nos faltasse o desejo.

Por várias vezes passei pela localização do dito castelo, mas estranhamente ele houvera desaparecido.

Ao encontrar esta fotografia numa galeria de exposições londrina, não consegui conter as lágrimas: era o castelo.

Não conhecia o nome do autor da fotografia e, também estranhamente, nunca o consegui contactar.

Contei esta história a Cármen Martin Gaites, que resolveu inspirar-se nela para escrever um livro: “A Rainha das Neves”.

Hoje, com 82 anos, devo dizer que continuo certo de que não há um “talvez” nesta história, é toda certezas.


ADN mimético do post:
A Rainha das Neves, Carmen Martín Gaites
A Rainha das Neves, Hans Christian Andersen
"Una Casa en Santiago", Desencuentros, Luís sepúlveda
Cul de Sac (1966), Roman Polansky
20 aniversario...palabras, Patxi Andión

A foto veio dos arquivos do Xupacabras e é da autoria de Isabelle Lousberg.

4 Comentários:

Às 10 fevereiro, 2005 10:03, Blogger menina Clode disse...

és um homem mistério...mas as tuas estranhas histórias teimam em tocar na tua realidade! parece-me, nao sei!

vai ao castelo...e curte a brava, depois logo se vê...podem sempre ficar as recordações!

beijos

 
Às 10 fevereiro, 2005 23:08, Anonymous Anónimo disse...

Uma história de curtar a respiração...neste momento da minha vida tem um significado que não consigo quantificar, é mesmo bastante profunda e ao mesmo tempo real. É dificil explicar como às vezes as coisas nos acontecem de uma tal maneira que nos obrigam a renunciar à verdade. É este mistério das evidências, da verdade que corre nas nossas veias no nosso coração e que por tudo pedimos que seja fruto da nossa imaginação. São os sentimentos que parecem estar trocados e a todo o momentos à flor da pele. Mais complicado é ao não conhecermos o desfecho da nossa história não termos força nem coragem para a alterar...mas penso, alterar o quê? se tudo sempre pareceu até aqui tão lógico, tão natural, tão prefeito! Mas que ao mesmo tempo se pode tornar no contrário, ao vivermos com o estigma da possivel mudança... É a encruzilhada desta vida que nos coloca tão vulneráveis que não conseguimos discernir (se calhar) o melhor para nós...digo se calhar porque há sempre o reverso da medalha, ou seja, o desconhecido. É tudo tão estranho que como a história conta mais parece coisas da imaginação, mas não é...
Cumprimentos T...

 
Às 10 fevereiro, 2005 23:38, Blogger Sérgio Xavier disse...

Que seria da realidade sem a imaginação? E que seria da imaginação sem a realidade? Quanto a mim (e segundo alguns neurocientistas de Harvard) são as duas uma mesma coisa.

T: o meu irmão (de 15 anos) utiliza sempre "nicks" diferentes no messenger, daqueles que nos dão comichão...mas, um dia destes, reparei num dos que tinha: "Só há uma coisa que impede que os sonhos se realizem: o medo de fracassar."

Mantém-te colorido, T., seja por que caminho for ;-)

És um orgulho para este blogue.

 
Às 11 fevereiro, 2005 16:10, Anonymous Anónimo disse...

Obrigado por estares aí e por captares o alcance das minhas palavras companheiro...continua a coisar eu vou acompanhando a malta.
Cumprimentos T...

 

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