sexta-feira, dezembro 31, 2004

Coisas do Novo Ano - Mariquices

O Muitas Coisas deseja a todos os seus leitores um ano cheio de coisas boas.

Ouçam os grilos no dia 1.

Não vejam o final da Quinta dos Ranhosos.

Bebam um bom vinho.

Façam muito amor.

Abusem! mas com estilo.

quinta-feira, dezembro 30, 2004

Coisas boas da vida - o espelho lá de fora



Bons, os momentos em que percebemos que uma coisa é bem mais feia na nossa imaginação do que na realidade.

"Mantenham-se de olhos bem abertos."

Vítor Figueiredo, 1929-2004.

Coisas da Fotografia - Mark Tucker

Como vem sendo habitual, hoje dei uma vista de olhos pelo que havia de novo no Xupacabras e fiquei especialmente surpreendido com a foto de Mark Tucker postada.

Há mais sublimes no site deste senhor.

Vibrem!

quarta-feira, dezembro 29, 2004

Coisas do Mundo - Vulnerabilidades...



Há que viver sem medos...mas que eles existem, existem.

Nada que eu possa dizer acrescenta...quanto muito, diminui...

Só tenho silêncio e a pessoal sorte de que, em vez de marcarem a viagem para a Tailândia no Natal, tenham marcado para o fim de ano...Ainda bem Zé, ainda bem Lena.

Coisas da Vida - as Horas



"As horas silenciosas passam, furtivas..."

W. Shakespeare

Coisas da vida - Ruído?



"Tudo o que me rodeia pode ser perfeito e sereno, mas dentro de mim há esta voz que continuamente me denuncia."

Wallace Shawn, encenador.

segunda-feira, dezembro 27, 2004

Coisas boas da vida - as coisas simples


Dog Walker in Fog, C. Harris

A lembrar:

Beber água quando se tem sede; levar os cães à praia num dia de inverno; deixar de fumar; passear de bicicleta; dizer bom dia aos vizinhos; acender a lareira quando faz frio; observar o fogo e ouvir o seu crepitar durante muito tempo; passar um dia a jogar um jogo de Xadrez; ouvir todas as sinfonias de Beethoven de seguida, pela noite dentro; levar a guitarra para a casa de banho; andar descalço pela casa; observar lentamente as estantes dos livros, e escolher um para ler; ler Paul Auster no comboio de todos os dias; acariciar o gato no nosso colo e vê-lo adormecer; levar com sol de chapa em Dezembro, e espirrar; tomar um copo com alguém vinte anos mais velho; provocar uma gargalhada a um bébé; regar a relva do quintal ao fim da tarde, num dia de Verão; cheirar o corpo de uma pessoa que se ame; tomar um banho de imersão, água muito quente, com sais; pensar em nada; telefonar aos amigos que não vemos há meses, anos...; fazer nenhures.

Não há mesmo desculpa para passarmos muito tempo infelizes.

sexta-feira, dezembro 24, 2004

Coisas da fantasia - as circunstâncias



Se, de repente, acordar num parque de diversões,
Vou curtir!

quinta-feira, dezembro 23, 2004

Coisas boas da vida - Monica Bellucci

Desde a minha tenra adolescência que a minha "dream-woman" não mudou. Chama-se Monica Bellucci e esta é uma das melhores fotos que jamais vi da senhora...esta é a prenda visual que dou a todos os apreciadores de beleza que frequentam este site; e olhem que é bem difícil de partilhar uma imagem como esta...

Para todos os efeitos, este é um post para testar o "share" do Muitas Coisas nas próximas horas :-)


Coisas de Natal - Alegria, alegria!

Vem aí o dia mais esperado do ano pelas crianças, a comunidade cristã, a Coca-Cola, as fábricas de bonecas e de bom-bons, etc...

É este o dia em que vemos o "Sozinho em casa" e os "Gremlins" na televisão; é este o dia em que nos comovemos com as luzinhas na rua; é este o dia em percebemos para que é que serve o "13º mês"; é este o dia dos envelopes que duram só até à passagem de ano; é este o dia em que recebemos os e-postais mais cómicos do ano.

O Natal é isto.

Há quem o faça em família; há quem o faça sozinho; há quem nem o faça sequer.

Por mim, acho bem.

Acendam a lareira; tomem um banho de imersão; fumem um bom charuto; bebam o melhor vinho; ouçam a melhor sinfonia; façam muito amor.

Façam muitas coisas.

Felicidades para todos é o que vos desejo!


quarta-feira, dezembro 22, 2004

Coisas da Arquitectura - Quem Sua Kay

Passo a citar o mail que recebi há pouco:

"Empresa desiste das Torres de Siza Vieira em Alcântara

O presidente do grupo Sil, Pedro Silveira, afirmou na terça-feira que as torres projectadas pelo arquitecto Siza Vieira para Alcântara, em Lisboa, já não vão ser construídas, noticia esta quarta-feira o Público.

De acordo com o jornal, o promotor do empreendimento, a erguer na Av. da Índia, optou por apresentar à câmara um projecto alternativo, da autoria de Mário Sua Kay, com edifícios de oito pisos, considerando «insustentável aguardar por um referendo em Maio de 2006».

Em declarações ao Público, Pedro Silveira, explicou que a sua decisão se prendeu com o novo cenário imposto pela convocação de eleições legislativas para Fevereiro, o que implica que o referendo já não se pode realizar em Março de 2005, como previsto, mas apenas em Maio de 2006.

A impossibilidade de realizar o referendo antes de Maio de 2006 deve-se à própria lei que rege os referendos locais, que diz que o acto não pode ser realizado, nem sequer o processo pode ser iniciado, no período entre a data de convocação de eleições e a data da realização das mesmas.

Pedro Silveira diz ter informado em Junho deste ano o arquitecto Siza Vieira de que apresentara na câmara o projecto de Sua Kay, que não suscita problemas relativamente ao Plano Director Municipal (PDM), pois observa as cérceas máximas, de oito pisos."


Eu pergunto se será "sustentável" a falta de qualidade dos projectos das pessoas que andam por aí com especializações a fazer dinheiro. Porque é que o Sr. Arq. Sua Kay não se dedica a fazer dinheiro com a bolsa? É que o PSI 20 não invoca conotações estéticas; é feio e pronto. Poupem-nos a avareza financeira, poupem-nos a avareza de espírito ou a falta dele.

Que vergonha...

Deliciem-se com a nova Alcântra que Kay: (é sustentável aos seus olhos Sr. Pedro Silveira? Espera que alguém o leve a sério?)



Coisas de Natal

Ele está aí à porta...e nem parece!

Lembro-me em miúda como vivia ansiosa nestes dias, porque faltavam muito poucas janelinhas por abrir do calendário.

Este é o Natal menos consciente, menos ansioso...está a passar, sem eu dar por isso. Espero que esta sensação não se repita, não gosto!

No entanto é altura de pôr aqui expresso o desejo de que este seja um Natal Feliz para todos.
E cada um o fará à sua maneira...creio! Pela minha parte, farei o possivel por espalhar o meu brilho em todos e em todas as coisas!

beijos e abraços da borboleta
que voa agora por terras distantes

Coisas de Vida

E que sentido terá a vida? quando de um momento para o outro a sentimos fugir das mãos?

foi há uma semana...de repente, tudo se transformou, e assustei-me. Não foi comigo, mas é como se fosse...

quando temos alguém bem perto de nós que voa levemente pela vida, assusta-mo-nos, e pensamos no sentido que tem a vida.

Por que razão se vive freneticamente, fazendo planos constantemente, organizando a vida matematicamente, se de um momento para o outro nada disso faz sentido?

realmente, aquilo que vale mesmo é o que temos no HOJE e no AGORA!

Viva-se, com muito amor e sem medo, todos os minutos de ar que nos são oferecidos!
porque estar vivo é uma Graça!

terça-feira, dezembro 21, 2004

Coisas da Arquitectura - Museu de Medicina

Fomos publicados!

O primeiro projecto do mundo para um museu de medicina pode ser construído em Portugal, Lisboa. O projecto com a autoria de Manuel Vicente, foi recentemente publicado num volume encomendado pela direcção do Hospital de Santa Maria. Haverá mais adiantamentos sobre esta situação num futuro próximo (espero).

Fiquem-se com algumas imagens sugestivas do "museu do Genoma":







Colaboradores:

António Damásio
Mafalda Pacheco
Inês Pinto
Sérgio Xavier

Coisas da Política - a mãe Natal

Foi com hilariante admiração que vi o que se segue. Passa-se presentemente, no Funchal.

Controlem-se, não caiam da cadeira!


A fonte das imagens é a nossa cara correspondente no Funchal, Maria Borboleta.

A "mãe":



O contexto da "mãe":

Coisas boas da vida - a serenidade e a família, no geral

Pois é, há um livro da M. Yourcenar ("um homem simples", acho...) que elabora um hino à simplicidade. É óbvio para todos, tudo é relativo; se nunca comemos um bom bitoque, saber-nos-á triplamente melhor comer um pela primeira vez; se já fizemos 100 saltos de para-quedas, então saltar de para-quedas trará pouco de novo, em princípio.

É só quando estamos sós, ou com frio, ou perdidos, ou presos, ou com liberdade a mais, é só nestas alturas em que pensamos em tudo o que de mais básico temos: a família, os amigos, o prato na mesa, a terrinha onde nascemos.

Hoje apetecia-me lembrar-me e lembrar-vos disto: o melhor que temos é o que REALMENTE temos, incondicionalmente; é isso que nos dá serenidade para viver a vida no geral, para nos apaixonarmos por pessoas e coisas diferentes, para viajarmos para sítios diferentes, para esquecermo-nos de coisas antigas e lembrarmo-nos de outras que mais, e para beber copos, no geral.

Temos tudo, senhores, lembrem-se disso.

Um grande abraço, no geral.



Fotografia de Mark Sink

sexta-feira, dezembro 17, 2004

Coisas da Literatura - Book of Illusions

Guilt can cause a man to act against his own best interests, but desire can do that as well, and when guilt and desire are mixed up equally in a man’s hearth, that man is apt to do strange things.


Paul Auster, Book of Illusions


quinta-feira, dezembro 16, 2004

Coisas do Cinema - Requiem for a Dream: Director's Cut (2000)

Acabei de rever o Requiem.

Comprova-se o mérito de Darren Aronofsky como realizador, que criou um filme com grande e comunicante dinamismo imagético e sonoro; é um filme com 5 sentidos.

Comprova-se o mérito de Ellen Burstyn que desempenha um papel de referência "against the odds"; ponho-o ao nível de Brad Pitt, em 12 Monkeys.

Comprova-se a sensibilidade cinemática dos Kronos Quartet que interpretam as pautas de Clint Mansell. A atmosfera ambígua do filme (entre o sonho e a realidade; entre o desejo e a repulsa) deve muito à sua banda sonora.

Em resumo, o filme perfura-nos até aos ossos, e, apesar de não apresentar uma violência tão extrema como no Irreversible, acaba por nos deixar uma maior tensão; isto porque em Irreversible, a violência é uma espécie de "decrescendo", sendo que no RFAD existe um "crescendo".

As imagens acabam sempre por nos chocar, por isso, tenham cuidado, vão vê-lo!

Quanto ao título, requiem, quanto a mim, é só um ligeiramente forçado "tique de estilo"; mas entendo, entendo.

Como vem sendo habitual, deixo sugestões com algumas imagens.











Ver mais é aqui.

quarta-feira, dezembro 15, 2004

Coisas de Outros Blogs - a ejaculação precoce

"É preciso pôr-se em cima da mulher com muitas precauções, apalpá-la o menos possivel, agitar-se o menos possivel e ejacular precocemente, a fim de evitar que ela tenha um orgasmo, pois isso poderia dar-lhe maus hábitos. Não há nada de mais aborrecido que uma mulher que nos exige o seu prazer como se fosse um dever nosso."

WOLINSKI, La Morale ( Le Cherce Midi, 1992 )

Veio do Xupacabras.


Porque mulher com mania de ensinar, precisa mais depressa de aprender...

Parque de Campismo, moi même.

Coisas de Outros Blogs - Fora do Mundo

Passo a citar o que me fez sair a primeira gargalhada de hoje:

"NÃO HÁ NADA: Num filme de Fellini – Intervista (1987) – Marcello Mastroiani conversa com um puto sobre sexo, durante uma viagem de carro. Pergunta ao puto se gosta de mulheres. A resposta é pouco entusiasta. Não me lembro do diálogo textualmente, mas sei que Marcello, incrédulo, insiste: se o miúdo gosta ou não gosta de mulheres. «Gosto. Mas não há nada como uma punheta». Então Marcello faz uma cara sonhadora e concorda: «De facto, não há nada como uma boa punheta». É um dos momentos mais líricos de toda a obra de Fellini. [P.M.] "

foi enquanto andava pelo Fora do Mundo.

Coisas da Música - Atrás da Porta

Atrás da Porta


Quando olhaste bem nos olhos meus
E o teu olhar era de adeus, juro que não acreditei
Eu te estranhei, me debrucei
Sobre o teu corpo e duvidei
E me arrastei, e te arranhei
E me agarrei nos teus cabelos
No teu peito, teu pijama
Nos teus pés, ao pé da cama
Sem carinho, sem coberta
No tapete atrás da porta
Reclamei baixinho
Dei pra maldizer o nosso lar
Pra sujar teu nome, te humilhar
E me vingar a qualquer preço
Te adorando pelo avesso
Prá mostrar que inda sou tua
Até provar que inda sou tua


Chico Buarque

Foto de Adam Szrotek.

Coisas da Infância - Ausência ou comentário às ilhas afortunadas

Disse Ausência mas podia muito bem ter dito Presença.
Sei que não fui o único a senti-lo, mas já há muito que não pensava sobre isto.
Lembro-me, em puto, de ficar a olhar para uma pessoa que desenhava, falava com outra, etc.
Lembro-me que ficava numa espécie de hipnose voluptuosa a observar os seus gestos; a sua maneira de ser.
Esta é a minha primeira perversão, das que me lembro...
Perversão porque observava mas não era observado; porque era o egoísta encontro comigo mesmo, à custa do que me rodeava; à custa dos outros; perversão porque acabava de duas maneiras: ou quando reparavam que eu observava, ou quando eu reparava que observava.
Doces momentos esses; lembro-me da forma como irremediável e subitamente me arrepiava; foi a primeira forma de puro amor; de contemplação química; de desejo alquimista.
Rarearam esses momentos; esses segundos; tornaram-se em coisas diferentes; metamorfosearam.
As ilhas afortunadas foi o poema que me fez entender o que era poesia; foi o primeiro onde me revi incondicionalmente. Para mim, Pessoa sentiu estas Ausências/Presenças e escreveu-o neste poema.


Arizona Interstate, Adam Butler.

Coisas da Poesia - As Ilhas Afortunadas

As ilhas afortunadas


Que voz vem no som das ondas
Que não é a voz do mar?
É a voz de alguém que nos fala,
Mas que, se escutamos, cala,
Por ter havido escutar.

E só se, maio dormindo,
Sem saber de ouvir ouvimos,
Que ela nos diz a esperança
A que, como uma criança
Dormente, a dormir sorrimos.

São ilhas afortunadas,
São terras sem ter lugar,
Onde o Rei mora esperando.
Mas, se vamos despertando,
Cala a voz, e há só o mar.



Fernando Pessoa, Mensagem.

terça-feira, dezembro 14, 2004

Coisas do Desejo - mulheres grávidas

Uma das coisas que mais me afecta a capacidade de juízo é mulheres grávidas; gosto de todas.

Se é verdade que a realidade de cada um encontra-se permanentemente alterada pelas imagens da memória e desejos, então esta é uma dessas imagens que me arrebatam à/da realidade, para mim. Uma mulher grávida é muito mais que uma mulher; é tão mais que me perco nos raciocínios e deixo-me ficar, apenas; intrigado ; a observar um dos "hard-core of beauty" que o mundo encerra.





Hasta la Pasta

Coisas de outros blogs - Xupacabras

Foi adicionado aos links aqui ao lado um interessantíssimo blog pelo qual tive o prazer de passear. Antes de mais, é bonito; tem muito bom aspecto; depois de tudo, a maioria dos conteúdos têm uma sagaz e bem disposta pertinência.

Vale bem a pena clicar no Xupacabras.

segunda-feira, dezembro 13, 2004

Coisas boas da vida - os arrepios

Conto-vos uma história; esta agora de amor louco, pelos arrepios. Tem quatro partes.

Parte 1.
Reza na minha memória que, quando bem mais puto era, andava atrás do aspirador enquanto a minha mãe limpava a casa. Fazia-o a gatinhar. Lembro-me disso porque adorava sentir os arrepios que o som e o calor proveniente da máquina sugadora me causavam.

Parte 2.
Já mais tarde, encontrei a mesma sensação com o som dos aviões que esporadicamente passavam; com o som de alguém a tomar duche; com o som do gerador, que às vezes se ligava; ou até com o berbequim.

Parte 3.
Mais tarde ainda, arranquei a antena de um rádio-despertador que me haviam oferecido num Natal, isto porque descobri que seria o som de frequência mais puro que podia conseguir com o dito aparelho; regulava para uma frequência absolutamente vazia de ruído, para ficar apenas a melódica, constante e pura frequência; era como se estivesse dentro de um frigorífico, mas debaixo dos cobertores. O despertador ainda existe, mas deixou de me arrepiar, de tantas noites ter adormecido com esse som.

Parte 4.
Hoje, gosto do Inverno especialmente por isto; o som da chuva sobre as telhas e os ductos metálicos e eu estar deitado debaixo dos cobertores, é do melhor que pode acontecer; durmo bem; adormeço arrepiado.

Por vezes, o som das ventoínhas do computador têm o mesmo efeito; outras, depois de urinar (com grande vontade de).

Qualquer que seja o momento em que o sinta, é especial, eterno; torno-me totalmente vulnerável e quero que dure para sempre; mas acaba, como uma boa "ilha afortunada", não espero pelo próximo, mas ele sempre aparece.



domingo, dezembro 12, 2004

Coisas da Poesia - o coleccionador

Quando o coleccionador


Quando o coleccionador
Perguntam-lhe; pergunta-se,
Porque arrumas; arrumo, conjuntos de coisas?

Quando o coleccionador
Deseja todas as coisas
De uma colecção;
Paradoxo e uma inversão,
Pois coisas, todas elas,
Eram já inverso
De colecção.

Quando o coleccionador
que guarda com cuidados
males espanta
dos cristais abandonados,
por uma vez acariciados.

Quando o coleccionador
De tempo, sem tempo, gasta
De coisas a coleccionar;
Nenhum gosto em tocar,
De lombadas, umas às outras,
Seguidas.

Quando o coleccionador
Olha e vê,
De novo desvia e volta a coleccionar
O olhar.

Quando o coleccionador
Goza finalmente;
Fogo de céu,
Escolhas,
Limpas, finalmente
Sabe,
Arder as coisas
Para dormir
A seguir.

Era aqui o quando.



escrito por moi-même num dia de incêndio...

Coisas da música - Orgasmo a uma só nota

Vim do concerto dos Orgasmo no Rustik Café (Sintra). Há muito menos a dizer do que a ouvir; no entanto, não resisto a deixar um esboço literário do que ouvi.

Qual é a dimensão de um só tom?

A filosofia (se é que existe) da composição das músicas tem como base o espaço; aquele espaço que se deixa aos outros para tocar; toda a música dos Orgasmo passa-se a um só tom; seja o Dó, o Mi, ou o Ti. A exploração tonal vincula-se, assim, à orgânica rítmica e à iteração melódica; falo de uma evocação das melodias peculiares do nosso passado; desde as secções de cordas de Handel ao Trash metálico, quase brejeiro, mas bem evocado e interpretado, ou ao ocasional balanço texano e pacmaniano.

Mas tudo isto passa de uma fantasia; e passa porque tudo se passa numa esfera de contemporaneidade musical; os crescendo são samplados, os sons caprichosos são sintetizados, os violinos são uma guitarra.

As influências, não são influências, são antes rapports nostálgicos; tráfego de códigos musicais em bruto. A latência é de Badalametti, a respiração é de Aphex Twin, a virtude criativa é de Beck (porque não se esgota), o furor gritante e silenciante é de A Perfect Circle (porque as guitarras, a seguir ao grito, também se calam).

O trabalho destes senhores não se enquadra no New Age (porque é música eléctrica, mas acústica); não se enquadra no rock (porque rocka mas também afemina); não se enquadra no electrónico (porque é demasiado orgânico). Em suma, são algo de diferente, mas igual a tudo aquilo de que vulgarmente se gosta (e não é sempre isso que nos interessa?!).

Tive múltiplos :-)

Ouvir Orgasmo é estar debaixo de água, e poder respirar.



Formação:
Miguel Ângelo, bateria
Pedro Batalha, baixo
Rui Martins, guitarra
Duarte Ornelas, teclas

Hugo Santos, vídeo

Ver mais é aqui.

sexta-feira, dezembro 10, 2004

Coisas do Cinema - 8½

Em 1963, Federico Fellini percebeu que a sua vida dava uma boa história; percebeu também que essa história dava um bom filme; teve a oportunidade de o realizar; chamou-lhe 8½.

Há aqueles que perguntam: mas o que há de especial neste filme? Não sei, respondo; talvez tudo, talvez nada; mas, se existe alguma explicação racional para ser tão bom, talvez ela se encontre em toda a imagética do filme. Falo das fabulosas formas de filmar as memórias e os sonhos, o espaço e a confusão, o que existe misturado com o que não existe.

Já com La Dolce Vita, Fellini tinha pressagiado a insustentável leveza do ser...não se pense que Kundera foi o primeiro a exprimi-lo; consolidou-o em palavras, 20 anos depois.

Presentemente, encontra-se uma nova cópia em exibição no King. Imperdível.

As imagens, como sempre, falam por si.













Coisas de Pintura - Paula Rego

Há umas semanas fui ao Porto com uns amigos.
Fui com a desculpa de uma visita de estudo da faculdade, mas o que me levou até lá foi sem dúvida o desejo profundo de ver a Paula Rego.

Fui de comboio, na companhia de três amigos, enquanto um lia atentamente o Público, o outro dormia o que não tinha dormido de noite, e os restantes, nós os dois falávamos desenfreadamente num processo de descoberta mútua, fortalecendo uma amizade de cinco ou seis anos. Revelaram-se alguns segredos...foi bom!

chegámos ao Porto às 17h...estava tudo calculado para termos a oportunidade de ver a Paulinha. No meio de uma descoberta ao Porto (a cidade invictamente renovada) lá chegámos a Serralves.

Nem acreditava que tinha conseguido ali chegar! já estava escuro, e a Serralves do Siza aparecia a brilhar como uma jóia no meio daquele breu (lindo!).
Assim que comprei o bilhete, apertei aquele papelinho vermelho anciosamente. Esqueci-me que tinha companhia e deixei-me guiar por qualquer coisa que não sei bem explicar.

As pinceladas, as manchas de cor da Paula Rego atingiram-me em cheio e já não pude falar mais...só suspirava e sussurrava para mim mesma o seguinte: brutal!!!

A sua capacidade em se exprimir através do desenho é incrível. Impressionou-me deveras! Identifiquei-me muito com a sua forma de encarar o desenho e a pintura.

Não é apenas um acto de fuga, de escape, é um meio de comunicação real e verdadeiro. Tudo o que existe dentro daquele suporte conta-nos qualquer coisa, e não é só a história visível dos quadros. É muito para além disso, é todo o processo que fala connosco.

Percorrer os riscos do pastel foi incrível e sentir com os olhos, desenhando mentalmente em simultâneo. As aguadas que parecem acidentais arrepiaram-me e deram-me uma vontade imensa de me exprimir através do desenho.

Andei por ali absorvendo tudo.
Quando acabou não queria que acabasse e tudo o resto que ali estava não fez sentido...não vi mais nada, não quis! Porque para mim a expressão do desenho em todas as suas formas é muito superior à insistência e à persistência de tentativas desesperadas de ser diferente e assim se ser artista. Não tenho saco!

Foi uma experiencia esmagadora! Quadros brutais em todos os sentidos, mas principalmente no que transmitiam por detrás das figuras brutais de Paula Rego!

Saímos de Serralves as 19h...de volta ao mundo real, e deseperadamente à procura de uma francesinha para um dos meus amigos que não falava de outra coisa.




terça-feira, dezembro 07, 2004

Coisas da Poesia - os segredos

Segredaram-te ao ouvido que te desejam.


Ouvi vozes que pereciam,
à medida que te aproximavas
Fui-me no momento que chegaste -
aliás, nem sei se parti,
ou se fiquei -
as ondas, agora
estão diferentes;
sou o mesmo,
tanto, e tão pouco do que já fui.
.
Às vezes uma vitória não chega;
Porque as procuras não acabam
e o desejo mantém-se.

São as subtis carícias
E os enlevos iterados;
São as vitais energias
E alegrias;
Os tormentos positivos
Os sorrisos atrapalhados;
São os vísceros sentimentos
E a contínua vontade de que estejas por aqui,
Para que aqui não chegue a saudade.

Segredaram-te ao ouvido que te desejam
E tu apenas acreditaste.

Segredaram-te ao ouvido que te amam
E tu apenas não ficaste.

Dei por mim já cego de verdade,
A loucura vai já longe
Mas fico cego de dia.

Segredem-me ao ouvido,
Verdades.



Domingo, 2 de Maio de 2004

Moi-même

Coisas da Arquitectura - o Dislumbre

Há um tempo, antes de começar a fazer um projecto, escrevi isto:

Dislumbre

Donde vem o dislumbre?
Donde virá essa orgia fantástica de emoções?
esse súbito esquecimento de que existo?

Essa música não terrestre;
Essa reinvenção do mundo,
que é meu.

Essa quase morte...

Fuga de tudo
do que me oprime
e do que me apraz.

Serenidade fugidia
Que se alonga com a minha ausência
cada vez mais...
Perto.

De novo o Deus esquecido
porque sim,
porque não...

Um bago de uva a rolar no chão
Um tanque onde outrora lavavam lavadeiras
Um albatroz sobrevoando uma multidão, na rua Augusta
Um doido beijando um quadro da Paula Rego
Uma mão que nos toca inesperadamente a nuca
A simpatia de uma hospedeira
A vontade de escrever um livro
A vontade de adormecer
A volúpia de uma preversão
A voz estrondosa de uma verdade,
quando é dita
O crepitar do fogo.

Água que corre no silêncio
Cheiro a papel húmido e velho
E a coisas muito usadas.

Porque não se pode, numa igreja, fazer amor?


Moi-même

2002

Coisas da Música - Algo Teu

Fica aí uma das mais sensíveis poesias que li (ouvi) nos últimos meses:

É só o nada a bater-nos à porta;
E a mim importa-me que estejas a meu lado,
Enquanto o medo vai dançando à nossa volta.

É só uma imagem que sonhámos doce imagem;
Nada que um dia após o outro reproduza;
Mas meu amor estaremos sempre de passagem.

Esquece o que eles dizem sobre um grande amor;
Quem podia mais querer-te como eu?
Nada que acredite conseguir mostrar pois é algo teu.

Pluto, "Algo teu"

segunda-feira, dezembro 06, 2004

Coisas da Fotografia - a nossa Serra da Estrela

Há coisa de um ano, fomos passear até à neve portuguesa. Foi com surpresa que vi os resultados da reportagem fotográfica. Espero que gostem tanto delas como eu.