Há umas semanas fui ao Porto com uns amigos.
Fui com a desculpa de uma visita de estudo da faculdade, mas o que me levou até lá foi sem dúvida o desejo profundo de ver a Paula Rego.
Fui de comboio, na companhia de três amigos, enquanto um lia atentamente o Público, o outro dormia o que não tinha dormido de noite, e os restantes, nós os dois falávamos desenfreadamente num processo de descoberta mútua, fortalecendo uma amizade de cinco ou seis anos. Revelaram-se alguns segredos...foi bom!
chegámos ao Porto às 17h...estava tudo calculado para termos a oportunidade de ver a
Paulinha. No meio de uma descoberta ao Porto (a cidade
invictamente renovada) lá chegámos a Serralves.
Nem acreditava que tinha conseguido ali chegar! já estava escuro, e a Serralves do Siza aparecia a brilhar como uma jóia no meio daquele breu (lindo!).
Assim que comprei o bilhete, apertei aquele papelinho vermelho anciosamente. Esqueci-me que tinha companhia e deixei-me guiar por qualquer coisa que não sei bem explicar.
As pinceladas, as manchas de cor da Paula Rego atingiram-me em cheio e já não pude falar mais...só suspirava e sussurrava para mim mesma o seguinte:
brutal!!!
A sua capacidade em se exprimir através do desenho é incrível. Impressionou-me deveras! Identifiquei-me muito com a sua forma de encarar o desenho e a pintura.
Não é apenas um acto de fuga, de escape, é um meio de comunicação real e verdadeiro. Tudo o que existe dentro daquele suporte conta-nos qualquer coisa, e não é só a história visível dos quadros. É muito para além disso, é todo o processo que fala connosco.
Percorrer os riscos do pastel foi incrível e sentir com os olhos, desenhando mentalmente em simultâneo. As aguadas que parecem acidentais arrepiaram-me e deram-me uma vontade imensa de me exprimir através do desenho.
Andei por ali absorvendo tudo.
Quando acabou não queria que acabasse e tudo o resto que ali estava não fez sentido...não vi mais nada, não quis! Porque para mim a expressão do desenho em todas as suas formas é muito superior à insistência e à persistência de tentativas desesperadas de ser diferente e assim se ser artista. Não tenho saco!
Foi uma experiencia esmagadora! Quadros brutais em todos os sentidos, mas principalmente no que transmitiam por detrás das figuras brutais de Paula Rego!
Saímos de Serralves as 19h...de volta ao mundo real, e deseperadamente à procura de uma francesinha para um dos meus amigos que não falava de outra coisa.